E então, finalmente chegou o dia. Tivemos a sorte de sobreviver por mais 365 dias para entrarmos novamente naquele clima de felicidade, solidariedade e confraternização novamente. Esse é o dia em que as pessoas sofrem um ligeiro desvio de comportamento, se distanciando de todo aquele padrão que a gente vê durante o restante do ano. É dia de deixar as brigas familiares e as diferenças de lado! É dia de presentear, de ganhar presentes, é dia de comer!
Tudo começa com os primeiros anúncios. As lojas mais antecipadas colocam os primeiros enfeites natalinos dois meses antes, avisando que é hora de começar a comprar. Aí vem os anúncios comerciais, as ofertas imperdíveis, o natal das novelas, o natal dos filmes com final feliz, os especiais. Programas de noticiário, como todos os anos, retratam a correria do brasileiro na semana de natal, aquele que gasta o décimo terceiro todo em presentes para a família, para os parentes, para os amigos secretos (que muitas vezes nem são tão amigos assim).
Por outro lado, vemos também todo um engajamento para tornar aquele dia da ceia o mais inesquecível e especial possível, repleto de toda aquela magia que a gente sempre vê nas propagandas. O dia perfeito, onde tudo é esquecido para vivenciarmos um momento de união, de amor e de harmonia. Um sonho que mal conseguimos viver durante o resto do ano, mas que neste dia tão "especial", ansiamos viver como se fosse uma programação automática.
As coisas são feitas quase que de forma inconsciente. Compramos presentes por obrigação, nos reunimos com supostas pessoas que amamos e entramos quase que em uma ilusão conjunta. Assim como a páscoa, as datas de aniversário, os dias dos pais, das crianças, do namorado, do amigo, o réveillon, o natal é uma destas datas onde buscamos a validação dos outros por meio de presentes, de mimos e de bajulações.
Tudo começa a girar de uma forma, que nos sentimos pressionados a fazer cada uma dessas coisas. É praticamente uma força invisível, que controla a nossa mente e nos faz trabalhar em prol destas datas tão "importantes". E então, como em um passe de mágica, toda essa movimentação se acaba no dia seguinte, e todos voltam à sua programação normal e morna. De volta à fria realidade! Então, será que as pessoas de hoje realmente estão satisfeitas com todo este ritual natalino?
Será que você, que está lendo esta mensagem, realmente se sente bem no meio de toda essa pressão para comprar presentes para pessoas que você não ama verdadeiramente? De passar a ceia de natal com pessoas que você não faz questão de estar junto? A sua ideia de natal é esquecer os males que todas as pessoas te causaram e ainda te causam para juntos viverem algo que é momentâneo?
Pensando nesse assunto ano após ano, cheguei a conclusão que precisamos buscar sair cada vez mais desta ilusão de que o natal precisa ser um dia perfeito. Para as pessoas mais espiritualizadas, todo dia deveria ser dia para celebrar o que se é comemorado, seja o nascimento e a vida de Jesus Cristo ou qualquer outro evento que para eles é tão importante quanto. Todo o dia deveria ser dia de estar em contato com nossos familiares e com as pessoas que amamos. Todo o dia deveria ser dia de presentear (nem que seja com um bom dia) as pessoas que prezamos.
Não somente no natal, mas em todos os outros dias do ano, deveríamos ser solidários e estar presente na vida de todos a quem estão próximos da gente. De procurar nos tornar pessoas melhores e mais presentes, desprendidos de toda a pressão que a mídia e que a sociedade colocam, e que nos induzem a fazer coisas que não queremos fazer. Afinal, qual é o seu ganho mental, emocional e financeiro quando você compra presentes, dá atenção e vai ao encontro de pessoas que estão pouco se importando para você?
Para o natal, fica esta reflexão. Ao invés de perder o tempo com pessoas desagradáveis, gananciosas e que não se importam verdadeiramente conosco, passemos a dar atenção para nossos verdadeiros familiares, amigos e parceiros amorosos. Ao focar seus esforços para estar presente na vida destas pessoas, sejam elas quem forem, a sensação de estar bem consigo mesmo será maior do que seguir o mesmo padrão que tentam colocar em nossas mentes. Lembre-se também de ser generoso, solidário e de ter bons valores por todos os dias do ano, e não somente hoje.
Ser presente todos os dias realmente requer um nível maior de consciência e disciplina, afinal, é muito fácil desviarmos o foco para outras coisas nos dias de hoje. Entretanto, quanto mais adiamos para dar aquele "Oi" para um velho amigo, mais próximo chega o tempo de dizermos um "Adeus" definitivo. Nunca sabemos o dia de amanhã, por isso, aproveitem para não só tornar o natal, mas todos os seus outros dias mais felizes. Busque o prazer em pequenas coisas, fique atento todos os dias às vidas que vocês podem salvar mesmo com um pequeno gesto, e por fim, seja com quem você estiver, não esteja por estar. Seja presente, sempre. Seja O presente.
A todo mundo, a todos os meus amigos, eu desejo um bom natal para todos vocês. Que aqueles que ainda buscam o seu "lugar no mundo", que tenham força para continuar trilhando o caminho que trilham, pois de certo que a recompensa no fim da jornada valerá a pena. Que aqueles que já o encontraram, que o preservem com muito amor e zelo, para que ele possa crescer, prosperar e lhe trazer todas as coisas boas que há de oferecer.
À vocês, de todo o meu coração.
