sexta-feira, 17 de abril de 2015

O Coração do Bem e do Mal

Dando continuidade aos meus estudos sobre as emoções humanas, hoje eu refleti novamente o papel que ela exerce sobre nossas vidas. Imagine, neste exato momento, que graças a um vazamento de gás, ou uma explosão na tomada ou mesmo a queda de uma vela iniciou um poderoso incêndio que consumirá a sua casa em chamas em questão de minutos. Qual seria a sua reação?

A menos que você não seja um psicopata, os seus batimentos cardíacos irão aumentar, deixando-o em estado de alerta. O sangue do seu corpo fluirá rapidamente para os seus pés e braços para facilitar a movimentação. Suas pupilas se dilatarão, para que os espaço seja analisado de forma mais branda. Então, em dois tempos, o seu corpo estará preparado para uma fuga.

Mas então, há um outro detalhe que você provavelmente não esqueceu nem mesmo durante a situação catastrófica na qual você se encontra: Você não está sozinho(a). Sua mãe, já velha e com movimentos limitados, está dormindo no quarto; sua sobrinha ou sobrinho estavam brincando no quintal antes do incêndio, e agora estão em pânico; ou se você for casado(a), seu bebê corre perigo. Seu coração bate ainda mais rápido, você sente a sua garganta se estreitando numa sensação sufocante e como se estivesse sendo atraído por um imã, corre automaticamente para salvar a vida da pessoa que você ama.

Amor. Perceba que o seu ato heroico até então foi impulsionado por este sentimento, que permite que você sinta afeição, crie conexões com as pessoas e coopere com o bem estar delas. Estar ao lado de alguém que amamos sempre nos trás tranquilidade, vontade de viver, vontade de ser feliz, de agradar a quem amamos. Quando estamos ao lado de um(a) cônjuge, o amor nos trás o prazer, a excitação, o tesão. E então, ocorre exatamente a situação oposta da história do incêndio. O Amor prepara o seu corpo para amar, e você se sente no paraíso com isso.

Mas você não está no paraíso. Você está dentro de sua casa em chamas, agora com a pessoa que ama ao seu lado, em total estado de pânico (afinal, o corpo dela foi preparado para isso). Você é de longe a pessoa mais privilegiada fisicamente, e se sente no dever de proteger a pessoa frágil que está ao seu lado. Vocês correm pra saída, mas no segundo final de se livrarem do fogo, o teto desaba no meio do caminho.

O tempo é curto. Não há alternativas. Existe apenas um pequeno espaço em direção a saída. Apenas uma pessoa por vez pode atravessar. O pânico aumenta ainda mais, mas não há mais nada o que se fazer. Não há tempo, pois a situação pede uma ação imediata. E então, supondo que você não é um(a) covarde e está pondo a vida daquela pessoa amada em primeiro lugar, cede a fronte para ela. Felizmente, ela escapa com vida. Infelizmente, você está morto(a).

Como consolação, pode ser que nos últimos segundos antes de ser consumido pelas chamas o seu corpo já tenha sido preparado para a rendição. Você conseguiu salvar aquele que protegia, e nada mais importa. A mistura da sensação de pânico com a leveza de ter salvado uma vida servem como uma anestesia para o seu corpo. A dor é pouca, ou então não há dor. Tudo se apaga, e sabe-se lá o que vai acontecer em seguida.

Você já desejou saber o que acontece quando você morre? Se você não crê em nenhuma religião e suas verdades, provavelmente já deve ter se perguntado isso ao menos uma vez na vida - eu já me perguntei várias. Mas imagine que, ao morrer, o seu corpo torne-se algo etéreo, intocável por qualquer matéria. E imagine também que você agora tenha o poder de viajar no tempo, podendo acompanhar de perto todos os seus antepassados até o momento em que o big bang ocorreu.

E se, por algum motivo, você quis viajar para a pré-história, na época em que os primeiros mamíferos passaram a existir, ainda assim conseguirá observar muito a respeito das sensações experimentadas durante o incêndio que lhe tirou a vida. Verá uma zebra-da-planície correr desesperadamente para fugir das presas de um tigre-de-java; verá uma mamute-fêmea proteger o seu filhote até a morte das garras de um predador; e ainda verá como isto fazia parte da vida dos primeiros homos sapiens sapiens, que também fugiam, protegiam e amavam.

E foi assim que, ao contrário dos répteis - capazes devorar suas crias a sangue frio - os seres humanos puderam gerar descendentes, expandir a população e chegar até onde estamos agora. O poder do coração - o qual chamam de sentimentos - foi um dos elementos fundamentais na construção e evolução da humanidade, e que ainda rege em grande parte as nossas ações e pensamentos. As emoções, quando usadas para o bem, permitem que criemos grandes obras. Elas nos motivam a evoluir como seres humanos, incentivam a proteção, a procriação, a busca pela realização, a existência do homo sapiens.

Mas se por um lado, as emoções boas foram responsáveis pelas grandes construções, pelos avanços e pela harmonia, um outro espectro de sentimentos são capazes de trazer a regressão, a ruína e destruir tudo o que foi criado. Na manhã desta sexta-feira (17 de abril), uma mulher foi morta pelo marido com dois tiros na cabeça dentro de sua própria residência antes de assinar o divórcio de um casamento supostamente desgastado. No ano passado, uma violenta briga entre dois homens ao final de uma festa terminou em tragédia, quando um golpe certeiro derrubou a cabeça de um deles contra o chão. Traumatismo craniano.

Quando nos sentimos ameaçados em demasia por uma situação na qual não estamos preparados, o nosso corpo torna-se inerte quando não temos escapatória. Uma garota que havia se preparado o ano inteiro para o curso de seus sonhos teve a sua capacidade de raciocinar completamente congelada no momento da prova. As respostas se confundiram e um erro após outro reduziram cada vez mais a sua pontuação. Eliminada. Quem sabe no ano que vem?

Mesmo para uma colegial dedicada que acabara de completar o segundo grau antes de fazer a prova, o sentimento de preocupação pode ser perigoso. Ainda que ela possa ter outras chances, isso poderia consumi-la inteiramente e levá-la a uma forte sensação de impotência, que poderia desencadear uma profunda depressão (que por sinal, vem sendo considerada como o grande mal do século XXI). Como vimos acima, o fim de um relacionamento pode gerar uma tragédia quando uma pessoa é dominada pela sufocante sensação de perda misturada com frustração e angústia. A bala é disparada de forma impensada, e no fim o que resta é apenas arrependimento, lágrimas e de seis a vinte anos de reclusão por 121. 

Em suma, toda a história de nossa espécie é permeada de um número indefinido de eventos desencadeados por ações geralmente movidas por alguma emoção: 

"A própria origem da palavra emoção é do latim movere - "mover" - acrescida do prefixo "e-", que denota "afastar-se", o que indica que em qualquer emoção está implícita uma propensão para um agir imediato. Esta ação imediata torna-se bem clara quando observamos animais ou crianças; é somente em adultos "civilizados" que tantas vezes detectamos a grande anomalia no reino animal: as emoções - impulsos arraigados para agir - divorciadas de uma reação óbvia." Inteligência Emocional - Daniel Goleman

Por isso, é necessário sempre estar atento a elas. As emoções boas servem para nos dar motivação e nos move a favor de nosso princípios, de nossos objetivos, de nossos sonhos, realizações e bem-estar. As emoções ruins ou negativas, por outro lado, nos levam a fazer coisas das quais podemos nos arrepender futuramente, pois em sua maioria sempre trazem consequências desagradáveis a depender de como e o quanto elas foram capazes de nos mover. A aptidão de controlá-las, portanto, é imprescindível para que possamos conduzir as nossas vidas de uma forma mais harmônica e benéfica.

Aos que conseguiram ler toda a postagem, ficam os meus agradecimentos. E até a próxima! 
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